Noite cheia de pessoas, com pessoas cheia da noite. Em meio a isso
encontram-me, aproximam-se... E como conversa de ventilador algum papo nasce na
sala, e eu pulsando de curiosidade sobre os próximos assuntos que viriam.
Nascia ali um daqueles acontecimentos que precisam ser escritos, lembrados e
falados. Foi tudo muito simples, em um pedaço de calçada eu ouvia alguém que
sem saber me traduzia.
A dificuldade com o idioma só fez deixar a
conversa mais encantadora, porque enquanto eu tentava explicar o que dizia ele
interrompia e, novamente, me traduzia. A lua acompanhava em silencio, fez força
pra parecer sol e me esquentar. Porém
nada adiantaria, pois meu corpo estava
frio, mas minha mente em brasa criava asas e esquecia daqueles malditos graus
de uma noite gelada.
Sim, foi mágico. Eu estava esperando por um
encontro como esses pra preencher meus dias de fantasias. Um amor platônico de
um dia, quiçá uma temporada, uma vida... Porque o bom, e mais gostoso, dessas
paixões de minutos é que a gente se enche de esperança sem querer. E ai estar a
verdadeira magia de um encontro: esperar sem querer demonstrar, viver pra
querer rever, reaproximar, e lançar-se à difícil tarefa de auto controlar-se
pra poder se preencher.
Quando eu nada entendia, ocupava os
momentos desenhando aquela barba macia. Gravando cada detalhe do contorno pra
poder lembrar no outro dia. Sabia que naquele momento eu poderia me perder no
escuro, mas estava proibida de perder-me no óbvio de minhas vontades. Meus
valiosos desejos ocultos, que abertamente passaram de ocultos pra melancólicos.
Mas não foi por querer, é que na minha confusão interna eu adiantei,
naturalmente, a pesada lembrança da ida.